sábado, 16 de agosto de 2014

OkCupid and the City.


Berlin é uma cidade de pessoas que vem e vão, depois de um tempo aqui a sensação é de que você é a única pessoa que não está apenas de passagem, e talvez por ser tão volátil, amizades ~às vezes ~ e relacionamentos podem ser igualmente rápidos e passageiros.
Sair numa noite berliner definitivamente não é como sair numa noite em São Paulo caso você seja uma mulher, portanto, não espere pelos boys que chegam-chegando malandros e na malandragi, aqui na balada a galera vai para curtir a música, e você pode muito bem passar uma noite inteira se acabando de dançar trocando apenas algumas palavras com o barman cada vez que pedir um gin&tonic, ou você pode corresponder aos olhares daquele cara alto tatuado de barba com cara de italiano e em alguns minutos ele vai se aproximar e dizer aquela frase que toda garota espera ouvir sua vida inteira: "Vamos para o darkroom?"...UEPAAA, NÃO ERA BEM ISSO QUE EU QUERIA OUVIR, MINHA GENTS! Mas não importa muito se era isso que você queria ouvir, o approach no geral é o mesmo, e da mesma maneira a minha resposta não muda: "Gato, devem haver pelo menos 400 pessoas nessa balada, continua procurando que uma hora alguém topa colar com você no darkroom, quanto a mim, eu tenho medo do escuro." Claro que também que não dá para generalizar, ainda existe a chance de ele estar te olhando porque na verdade é um dealer, e veio falar com você para te perguntar se você quer comprar drogas.
Em ambientes assim fica um pouco difícil conhecer pessoas, e talvez por isso muitos recorrem aos Tinder, OKCupid, Grindr da vida, você sabe... Todos esses apps que fazem o processo todo ficar ainda mais maluco. E é verdade que conheço exemplos de pessoas que viveram felizes para sempre após conhecerem sua respectiva tampa da panela nesses aplicativos, mas também conheço um significante número de pessoas que utiliza os mesmos apps como uma espécie de cardápio do dia; "Prato principal do almoço: loiro, 1,90, gosta de correr e assistir Breaking Bad e está a 800 metros de mim"...
O Tinder eu ouvi falar a primeira vez através de amigos quando ainda estava em São Paulo, mas nunca me interessei, o Grindr me pareceu ser sempre o ponto em comum de todos os meus amigos gays, mas enquanto menina moça que sou ~apesar de às vezes parecer travesti~ nunca pude entrar, mas gosto de dar palpite nos boys que meu bestie acha por lá, e dou boas risadas às vezes com as messagens aleatórias que eles enviam para o meu super lindo amigo.
A primeira vez que ouvi falar de OKCupid, ou OKC para os íntimos, foi através de uma amiga querida jornalista, ela que estava começando um projeto jornalístico incrível que faz uma conexão Berlin-Brasil, me chamou para uma entrevista sobre relacionamentos, e no final ficamos trocando figurinhas sobre a vida romântica e relacionamentos em geral para nós, estrangeiras vivendo la vida loca berlinense, e ela me falou desse site/app, disse que era incrível para fazer amigos, assim como conhecer caras legais, e que ao contrário do Tinder, não era tão pautado em sexo. Na época eu estava começando um relacionamento, e achei legal a ideia, mas achei melhor passar sem por enquanto, já que estava de boas com meu boy.
Seis meses de vários momentos legais que terminaram de forma abrupta depois de ele fazer uma lista de defeitos que eu possuía ~e que ele sugeria que eu mudasse em mim para o meu próximo relacionamento já que ele mesmo não podia mais suportar o fato de que eu falo com gente que não conheço e tenho muitos amigos...~, eu pensei "WARUM NICHT? Oxe, mas por que não?!", e criei meu perfil, coloquei fotos incríííveis como essas:



Fiz uma bela descrição condizente com a personalidade e olhar DDA para o mundo, e o show de horrores começou. Primeiro que percebi que a galera desconhece o sentido de sarcasmo por essas bandas da internet, vejam bem, no meu perfil eu dizia que tinha nascido na casa da Björk, mas que fui criada na Ilha de Páscoa, que meus pais eram duas estátuas gigantes de pedra, que eu atirava feijões pelas mãos e transformava minhas pernas em tigres. OK, pouco absurdo, né?! Mas vocês se impressionariam com a quantidade de gente que me mandou mensagens perguntando se de fato eu conhecia a Björk.
Recebia por dia cerca de 20/30 mensagens de homens não só de Berlin, mas da Turquia, India, EUA, Noruega, Israel, Irlanda, etc, e eu me perguntava como essa galera me achava se minhas configurações estavam voltadas somente para a capital alemã. O conteúdo dessas mensagens também variava, o mais comum era a versão gringa de "Oi, quer tc?!", mas também tiveram algumas pérolas, até hoje não esqueço de uma que vou escrever em inglês porque em português perde um pouco o sentido: "I wish you could be my big toe, so I could bang you on my coffee table."  Outras propostas sexuais diretas ~fiquei surpresa com a quatidade de gente que disse querer me ver em latex e com chicote na mão~, alguns convites para ménage à trois, e até mesmo convite para orgia em masmorra de castelo no sul da Alemanha teve.
Devidamente bloqueadas, essas mensagens me fizeram pensar um pouco, por que se existe oferta, então existe demanda, e fiquei tentando imaginar o tipo de pessoa que sai com o cara que diz que queria que você fosse o dedão dele, ou como é a mulher que aceita a orgia na masmorra na sua rotina diária, onde vivem? Do que se alimentam? Sexta feira no Globo Repórter.
Claro que conheci gente legal, fiz alguns amigos, mais ou menos. Hà-hã! Bem...O que acontecia é que começava a conversar com os caras online, combinávamos de nos encontrar, conversámos por horas, eles sempre elogiavam meu gosto para música/filmes/livros/séries, minhas habilidades em falar diferentes línguas, diziam que eu era muito engraçada e darará, mas quando eu deixava claro que não sabia o que estava procurando, que estava mais pra amizade ~"Aiii, acho que é amizade, Seu Silvio"~ e que não ía rolar nada mas que a gente podia se ver novamente e tomar uns bons vinhos, as respostas eram "Sim, sim...Claro, vamos marcar", mas nunca mais ouvia falar nas criaturas. Só um. Teve um, o Moody ~ vou chamar ele assim~, ele foi o único que permaneceu, continuou meu amigo.
Deletei minha conta já faz uns meses, spam demais na minha caixa de emails, e também porque cansei dessa brincadeira. Cansei das mesmas perguntas, das mesmas respostas, cansei, sabe?!
Vou continuar dançando a noite inteira em companhia dos meus gin&tonic, curtindo o som, curtindo as luzes da noite na cidade que virou minha verdadeira paixão, e que eu não preciso de um app para conhecer, é ao vivo em cores e eu nem preciso de Iphone.
Liebe Grüße
Xu  










quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Eine schüchtern Brasilianerin e o FKK alemão.




Não que eu seja realmente tímida, todo mundo que me conhece sabe que eu falo mais que o homidacobra, mas mesmo com todas as vezes que falei em público em palestras sem um pingo de vergonha na cara, eu não possuo traquejo social para manter simples conversações com desconhecidos e me sinto deveras intimidada com a nudez alheia.
Quando pela primeira vez em Amsterdam, eu andava pelas ruas do Red-light District tentando com toda a minha alma não olhar diretamente para vitrines com belas mulheres nuas em display.
Aqui na Alemanha porém as pessoas são acostumadas com o corpo nu, inclusive em ambientes públicos como lagos e parques.
Conhecido como FKK, o Freikörperkultur ~Cultura Livre do Corpo, em tradução literal livre e bananística desta que vos posta~ é um movimento alemão que endorsa um aproach  naturista para vida em comunidade, ou seja viver livre, leve e solto de boas nu com a mão no bolso, sem qualquer conotação sexual em ambientes de convívio social.
A primeira vez que ouvi essa expressão foi quando fiquei embasbacada ao ver quatro caras usando sapatos, e nada mais, sentados num sofá no interior Berghain, enquanto um outro peladão fazia feliz uma perfomance de pintocóptero ao som de música eletrônica. Quando meu amigo viu minha cara de choque o comentário foi direto "FKK, babe, cê não é brasileira, poxa? O povo não fica pelado no Carnaval?", ãhnnnnn, NÃO ASSIM, GENTCHY!
Quando o verão deu as caras por aqui parece que a alemoada se jogou na vibe semlençosemdocumento. Com trinta graus e o calor abafado berlinense, todo mundo vai pros lago tudo, e aí crianças, casais, tias, tios, avós e avôs, todo mundo caminhando com as parte balançando e/ou tomando um ventinho, e eu sentadinha na grama querendo enfiar minha cara nas páginas do livro que eu estava lendo ao responder para uma tiazinha peladona que procurava um banheiro. E aí quando eu digo que no Brasil é proibido o topless nas praias são eles que ficam chocados, e sem entender o meu constrangimento.
Não me levem a mal, amigos, não tou julgando, queria eu ser livre das amarras sociais que ainda me fazem ser presa a ilusão de que estou mais "protegida" atrás de um biquini minúsculo de confecção brasileira, que com as peitchola sorta tudo, sinto até uma invejinha da galera que tira a roupa no meio da rua e se joga no chafariz perto de Frankfurter Tor em dias quentes, mas essa brasileira aqui prefere continuar de short e camiseta, mesmo que um seja curtíssimo e o outro tenha um decote profundo.
Sô boba de roupa, schüchtern e pudica, me deixa.

Liebe Grüße
Xu